terça-feira, fevereiro 26, 2008

"Tonho, hoje é tú que vai voar..."



ABRIL DESPEDAÇADO

Um homem agachado observa
uma camiseta furada e amarela
manchada pela tradição de violência
e ignorância de sangue

ele não se lembra mais
quem deu o primeiro disparo
quem inventou a guerra
só sabe que foi por conta da terra
que hoje é seca e estéril
banhada pelas pedras que não drenam

Ele sente raiva na selva
marcar poderia
riscar poderia
matar – até – poderia
mas tudo o que quer mesmo
é beijar os lábios
carnudos e cortados
Daquela
andarina das pernas de paus
que partiu no circo
e nunca mais voou até o Sertão
mesmo depois que o verde dos seus olhos
choveu

Um comentário:

Luiz Carioca disse...

muito bom o poema. devo a mim mesmo assistir esse filme. Esse e o céu de suely. adoro cinema nacional.