terça-feira, fevereiro 05, 2008

NÓS, OS QUE FICAMOS

Alguns me perguntam: o que você vai fazer?
Eu digo: vou ficar.
Nós, os que ficamos, somos a única chance de salvar este lugar.
Do desespero, da ruína. Do abandono.
Do comum.
Não culpo quem partiu. Foi uma opção.
Não culpo quem nos abandonou.
Do lado de lá, dizem, é bonito.
Eu sei. Já estive lá.
Mas quando as coisas apertam, quando temos dificuldades, não podemos simplesmente nos mudar. Abandonar nossa memória, nossas fotografias, nossas histórias e, mudar.
Desistir.
Fazer outro caminho e desistir.
Nem sempre se entregar é o melhor, o mais fácil.
Nem sempre o mais fácil é o melhor.
O mais correto.
Principalmente quando resta uma pergunta:
E os que ficam?
Não posso deixá-los.
Convites, propostas não faltam. Argumentos são duros. Muitos. Principalmente quando vêm de dentro de casa.
É isso o que você quer para o seu filho? Abandonado por tiranos, nas mãos de carrascos. Você tem medo de mudar.
Nestas horas fraquejo.
Quase me dou por vencido e, está bem. Vamos.
Mas aí eu penso: não, não é isso que eu quero para ele.
Para seus irmãos, para seus primos, amigos.
Não é isso que eu quero para ninguém.
Por isso é preciso ficar.
Brigar, confrontar, sangrar.
Transformar.
Para que nenhum de nós seja novamente humilhado. Nenhum de nós desprezado, esquecido, desrespeitado.
Ficar.
Não quero me mudar do lugar que sobrevivo. Quero mudá-lo.
Torná-lo mais belo. Mais seguro, mais sensível.
Mais humano.
Nós, os que ficamos.
Somos muito importante.
Sabia disso?

2 comentários:

[tabita] disse...

amar a periferia é desejar uma vida melhor pra todos nós. é desejar que tenhamos todos condições de trabalhar, de morar, estudar, comer. viver. é desejar uma sociedade de iguais.

amar a periferia, em outras palavras, é sonhar e lutar para que ela, um dia, deixe de existir.

r.c. disse...

"periferia é Amor...", como diz o Z'África. eu entendo este sentimento. espero que ela deixe de existir enquanto lugar de falta de recursos, oportunidades, equipamentos públicos, etc. mas espero que a periferia nunca deixe as pessoas. o sentimento de comunidade que existe em muitas delas, o brincar na rua da molecada, a pipa no alto. tocar campainha e sair correndo. a fogueira. não se vê mais estas coisas nos condomínios fechados ou bairros não periféricos.
abraço,