domingo, setembro 02, 2007

conto


MARIA

Eu não me importo de ter sido acusada de colocar cocaína na mamadeira com leite quente e farinha e não poder falar pra me defender quando o apresentador da TV me chama de animal monstro assassina buscando o melhor ângulo sobre o meu rosto quando o delegado me algema e me puxa pelos cabelos pra mostrar a minha cara chorosa e me chamar de fingida. Eu não me importo por ter sido trancada pela revolta das mães presas e por isso ter sido justiçada surrada a cara marcada e ter uma caneta enfiada dentro da minha vagina. Revolta de mãe eu entendo. Eu não me importo com o laudo me inocentando depois de trinta e sete dias e o mesmo apresentador da TV se calando ignorando não pedindo desculpas fingindo desconhecer a notícia e a soltura na sexta-feira santa pra finalmente ver a pequena cova cheia em contraste com a minha alma vazia. Eu não me importo. Nada me importa.

Eu só queria era ter embalado o meu filho.


***

5 comentários:

Bruno disse...

Belo conto , com uma concisão que me agrada muito. Um abraço

r.c. disse...

obrigado bruno. volte sempre.
abraço,

Anônimo disse...

Tu é brilhante =D

LITERATURA BRASILEIRA NA ESPANHA disse...

este conto é bonito demais...
Inda mais pra mim... com meu barrigão de Sara

DOG SP disse...

Acho que você captou exatamente o sentimento dela. Porque é que esse tipo de injustiça covarde e cruel ainda tem de existir em nosso país?
Parabéns.

Vicente