sábado, abril 04, 2009

TCC

A maior violência da escravidão
Foi tratar as pessoas como objeto
Simples mercadorias

Hoje, legalmente falando
Não existe mais a escravidão
Mas a coisificação das pessoas
Continua viva

O capataz geralmente tem cara jovem,
Apresenta boas intenções, promessas fáceis
E esbanja simpatia
Seu trabalho? Fique ligado:

Fazer nada pela ética
E tudo por uma boa nota final
No diploma da Academia

5 comentários:

Thomas disse...

Achei interessante o poema, sem grande elocubrações estilísticas, mas deixa clara a sua posição acerca do tema abordado.
Um comentário, você, se não me engano, é professor. Creio que frequentou os bancos acadêmicos por um bom tempo. E, se obteve diploma de bacharel, também fez um TCC. Sendo assim, é um texto auto-referencial?

r.c. disse...

"Elocubrações estilísticas"? Você deve frequentar também os bancos acadêmicos, correto Thomas?

Particularmente, não considero o texto auto-referencial. Mas seria muita arrogância da minha parte afirmar isto. Talvez seja melhor perguntar, por exemplo, aos integrantes da revista Ocas". Eles fizeram parte de um trabalho de faculdade, podem, com certeza responder com maior propriedade.

Não acho a Academia de todo ruim. Aprendi muita coisa por lá. Inclusive que a Ética é um discurso teorizado por muitos e praticado por poucos. E que os "objetos de estudo" muitas vezes estão vivos. E merecem respeito.

Thomas disse...

Quando questiono sobre o sentido auto-referencial é apenas uma provocação. Só um pequeno impulso para iniciar o debate.
Gostei do seu livro e acompanho com um certo interesse seu blog.
Achei o texto TCC um pouco delicado e sem poder de argumentação. Você possui um pensamento articulado, uma escrita interessante que mescla fragmentos na construção de uma cena específica, e apresenta um texto simplório como esse. Chamar de capataz um jovem formando é no mínimo delicado. Não é uma relação de troca? Qual seria a imagem das favelas do Brasil sem a contribuição dos inúmeros trabalhos acadêmicos produzidos sobre esses espaços? Além disso, as pessoas que são tratadas como objeto não possuem vontades? Não podem negar a ajuda na elaboração de um TCC? Você deve ter visto o "A margem da imagem", correto? Acho que realmente é impossível alcançar uma perspectiva de representação que se quer próxima dos sujeitos marginalizados? Será que nunca haverá uma forma de abordagem que aproxime as duas perspectivas - intelectual e marginal? Da forma como são apresentados, parece que quem considera esses sujeitos como objeto é, igualmente, você.
Abraços companheiro!

r.c. disse...

Caro Thomas,

Obrigado pelo elogio em relação ao meu livro. Mas preciso deixar algo claro: não sou um escritor. Sou um cara que gosta de escrever. Tenho necessidade visceral de escrever. E escrevo, principalmente, com o estômago. Não tenho preocupações em publicar textos eloquentes e bem elaborados ou textos considerados por outros como "simplórios". Simplesmente não me preocupo com isso. Me preocupo em escrever.

Em nenhum momento desconsidero a importância da Academia, em qualquer área. Sou fruto do trabalho acadêmico, árduo. Frequentei durante seis anos os bancos acadêmicos, oficialmente falando. Extra-oficialmente ainda vou na Academia. Pretendo fazer mestrado, doutorado e outros ados.

E pelo fato de conhecer a Academia e as pessoas que fazem parte dela, tanto docentes e discentes, não tenho receio nenhum em fazer afirmações sobre os problemas que nelas existem. Ou você discorda da existência de professores picaretas e alunos que buscam apenas o diploma como fim, sem valorizar o processo, o estudo?

Agora, talvez você tenha ficado encanado por estar achando que eu estou "defendendo" as pessoas tratadas como objeto de pesquisa, como se não tivessem vontades, não pudessem se defender, etc. Talvez você esteja, em partes, certo. Mas eu preciso te dizer algo: este texto é mesmo auto-referencial, no sentido de que EU me sentido tratado já como coisa, como objeto. Vou dar dois exemplos:

1)quando eu trabalhava na Ocas, cuidava da parte de projetos. Durante um tempo eu fiquei responsável por receber os voluntários e pessoas interessadas em desenvolver trabalhos acadêmicos. Certa feita, um grupo de alunos da UNICSUL foi lá fazer um trabalho com os vendedores. Dei todo o suporte possível, toda ajuda; eles fizeram entrevistas com os vendedores e comigo, nós saímos pelas ruas para acompanhar o trabalho. Eu FUI até a UNICSUL para gravar um programa de entrevistas com eles, fiquei mais de três horas na Universidade. Despendi tempo, dinheiro, atenção, e não falo dos vendedores, o meu tempo, dinheiro, atenção, confiança. O resultado? Eu não sei, simplesmente não vi. Cometi o erro de não lembrar e verificar o nome do docente, a disciplina e, quando o trabalho foi concluído, os "universitários" nem se dignaram a entregar a nós o resultado do trabalho. Os vendedores me cobraram, eu não vi o que fizeram e, ambos perdemos. Garanto que ELES não. Se não tiraram um dez, uma boa nota tiraram, com certeza.

2) outra vez que senti-me coisificado foi na escola. Uma estudante acompanhou as minhas aulas, conheceu os alunos, fez anotações, passou uma entrevista, perdi grande tempo, respondi e, depois, a mesma coisa: SUMIU. Nenhuma consideração em prestar contas do resultado, em mostrar o resultado do trabalho. Nenhuma.

Estas são duas situações particulares, minhas. Fora outras tantas que eu vejo ao meu redor, nos movimentos de moradia, população de rua, etc.

Quando faço este texto simplório, generalizante, não estou defendendo apenas os outros, estou me defendendo. Há sim pessoas éticas e sérias na Academia. Eu inclusive as conheço. Mas são minorias. A maior parte age como capataz, senhor de engenho e do mundo. E eu me preocupo pois, se agem assim ainda nos bancos acadêmicos, imagina quando estiverem exercendo a profissão, o que farão.

E o poema simplório é uma provocação, sim. Mas só, apenas aos que agem desta forma. Quem não faz coisas deste tipo, basta ignorar.

Agora, é minha última postagem sobre este debate. Preciso dedicar minhas energias em outras coisas que para mim ultimamente são mais urgentes. Este debate é importante mas, não será aqui, nos comentários de um blog que faremos algo a respeito. Se houver algum debate com mais pessoas, na própria academia ou em outros espaços, me coloco já a disposição para discutir sobre isso. E para fazer a leitura do meu poema, ao vivo.

E que venham os ovos e tomates dos universitários. Se é que eles tem coragem para isso. Os mais covardes não fazem como você, ficam quietos e fingem que não é com eles. E tudo certo.

Atenciosamente,

R.C.

Thomas disse...

Te pego lá fora

Tô brincando, abraços e até!