Lembre-se: quando o bicho pegar, de verdade, você estará sozinho.
Até mesmo a sua família, seja a biológica – que a gente não escolhe – ou aquela outra, que a gente escolhe, a dos amigos, bem; até mesmo eles te abandonarão. Não perceberão o quanto você está chato, a flor da pele, sensível. Não perceberão o quanto você precisa de cuidados. Como um gato, você terá que lamber as suas próprias feridas.
Seja firme, seja forte. Não fique muito angustiado, não fique muito rancoroso. Tudo passa, e você superará isso. E ficará mais forte. E poderá aprender com isso.
Eu aprendi que as pessoas tem uma imagem muito deturpada da minha pessoa. Ou as pessoas tem a imagem exata de quem eu sou, mas que eu não sabia. As pessoas olham para mim e vêem sexo. Principalmente sexo. Acham que seu eu ligo para elas, se eu as convido para sair, para tomar uma cerveja, eu só tô querendo uma coisa: comê-las. Claro, isso é uma opinião majoritariamente das minhas amigas femininas. Mas entram alguns amigos no bolo.
Por estes dias falei com muita gente. Via fone, via MSN, via orkut. Pessoalmente. Revi muitas pessoas. E foi bom, foi ótimo. Pois estou passando por uma reestruturação na minha vida pessoal e sair do casulo para virar borboleta pode ser um processo lento, doloroso e extremamente difícil. Pelo menos está sendo para mim. Por isso, recorri a alguns amigos. Pessoas que eu não via há muito tempo.
Aqui eu percebi a minha falta com eles. Há tempos não saíamos juntos. Há tempos não nos falávamos. Há tempos eu – e é bom também deixar claro, eles e elas também – haviam deixado a amizade de lado, para cuidarmos de nossos interesses pessoais: namoros, trabalho. Principalmente estes dois.
Pois bem, depois de alguns aninhos longe de pessoas tão especiais, é quase um choque retomar um contato com estas pessoas. Para mim, soa até como interesse: “Ah, agora ele vem.” E de fato é interesse. Mas, quem é que não se relaciona com as pessoas por interesse? Claro, os interesses são diversos, outros mesquinhos, mas todos temos interesses em se relacionar com as pessoas. Nossos amigos são as pessoas mais interessantes, aquelas que conhecem fragmentos de nossa alma, tem a melhor palavra, o melhor ombro; são aqueles que tem o melhor consolo, ainda que seja um porrete – pois precisamos, vez ou outra, de alguém que nos dê uma paulada de realidade. E por isto, liguei para várias amigas e amigos.
Bom, alguns disseram que íamos sair no final de semana. Outros falaram que me ligariam. Uma pessoa certa que eu marquei, tive que desmarcar por conta da chuva e que eu precisei trocar os pneus do carro; tentei ligar e não consegui falar. E de repente eu me vi, no final da tarde de uma sexta-feira, desesperado para encontrar alguém, para sair com alguém, para nada mais: conversar, tomar uma cerveja. Minha alma está em pedaços e, eu estou precisando de companhia. Companhia: amizade, risadas, conselhos. Não sexo. Eu não quero sexo. Não agora, obrigado.
Mas, retomando a saga. Uma pessoa diz que não pode, vai sair com os amigos da facul. Outra diz que está no metrô, quando chegar em casa liga. Outra diz que tem um aniversário, não vai rolar. Outra (não mulheres, pessoas) não atende, outras dizem que não dá, outras dizem que estão com amigos em casa – e não me chamam – mas, qualquer coisa me liga. Vários, vários outras e outras não me atendem, não me retornam e eu, a estas horas andando pra baixo e pra cima em algum lugar de São Paulo, vou ficando cada vez mais sozinho.
Algo me diz para ir pra casa mas, outra coisa me diz para eu sair. Saia sozinho, vá se encontrar com você mesmo, sozinho. E eu fui.
E foi difícil passar uma noite de sexta-feira sozinho. As horas demoraram para passar. Mas depois que eu me acostumei comigo de novo, foi bom.
É chavão mas, é verdade: Antes só do que mal ou menos acompanhado.
Andei pela Augusta, fui na livraria Cultura, assisti um filme no Espaço Unibanco – com várias outras e outros sozinhos – comi um negócio, fiquei observando o fluxo tão diversificado de pessoas, fui para casa. Assisti TV, reli o conto “Dama da Noite” do Caio Fernando Abreu, extremamente propício para o momento e, fui dormir.
Só um adendo: quem não conhece este conto, deveria lê-lo. E fazer a sua opção: continuar ou não na roda gigante. Eu preferi sair, apesar de aqui do lado de fora, estar sentindo-me frio e solitário, e morrendo de inveja de quem está na roda gigante. Eu quero ficar aqui.
E hoje acordei melhor. Muito melhor. Pela primeira vez consegui acordar sem que a primeira coisa que viesse a minha cabeça fossem os meus problemas. Eu pensava na noite de ontem, nos amigos e amigas que me ignoraram, no filme, no livro. Em mim. E fiquei bem: consegui dar uma ajeitada na casa, varrer sala, corredor, cozinha; consegui lavar a louça, arrumar a bagunça de livros jogado pelo chão, pelo armário, pelo teto; por todos os cantos. Enfim, eu consegui ajeitar a minha casa. E isso é muito significativo para mim, pois primeiro: eu moro sozinho. Ou seja, se você não arrumar a sua bagunça, ninguém irá arrumar para você. E segundo, eu sou muito organizadinho, gosto das coisas ajeitadas, nos lugares e, se a minha casa não estiver organizada, significa que há algo de errado comigo. Ela é o meu espelho, a minha imagem objetiva e direta. Se ela está bagunçada, é porque eu estou bagunçado. E hoje eu consegui arrumar a minha casa. Ótimo.
E aos amigos e amigas que não me atenderam ontem, não falaram comigo, que estão correndo de mim, por motivos diversos: tudo bem, sem crises. Se vocês são meus amigos, realmente, terão outras chances de se reconciliarem, de me emprestarem um ombro, um estômago. Assim como eu estou tendo a chance agora, de começar de novo. E isso é ótimo.
Isso é estar vivo.
Um comentário:
Salve, Rodrigo! Firmeza totsl seu texto. Humildade e atitude, dignas de um guerreiro. Os "sobes e desces" da vida tendem a nos ensinar e a nos fortalecer. Abraço, mano.
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