Sonho de moleque, também quis ser jogador de futebol
Matador igual Pelé.
Driblador igual Garrincha.
Abusado que nem Maradona.
Folgado igual ao Baixinho.
Fim de semana sempre tinha alguém na minha porta gritando:
- Cabeçãããããããoooo...
Já sabia o que era.
Pegava o meião, tênis de futebol de salão e a bola.
Claro, principalmente a bola.
Eles não esqueciam de me chamar por causa dela.
Na hora de escolher o time, sempre era um dos últimos.
Nunca o último, que fique bem claro.
Sim, eu era ruim. Mas não era pra tanto.
Eu gostava de jogar na zaga.
Não era minha posição favorita, mas era onde me sentia mais confortável.
Se não soubesse o que fazer, era só dar um chutão.
A molecada vibrava. “Aêêêêêêêêê...”
Melhor do que ficar na frente, a responsa de fazer os gols.
Nunca fui muito de fazer gols.
E não gostava de ser vaiado.
Apesar de não ser canhoto, gostava também de jogar na lateral esquerda.
É, rapá. Eu não era bom, mas sabia bater com as duas pernas.
Isso dava uma vantagem.
Outras vezes, gostava de correr junto à linha lateral.
Cortar pra dentro sem o marcador esperar e pá! Bater de chapa.
Bater pro gol.
Fiz vários gols assim, cortando pra dentro.
Minha jogada ensaiada.
A única, é verdade.
A galera ia ao delírio.
Eu comemorava igual ao rei
O pulo, o soco no vento.
Igualzinho.
O gol mais marcante que eu fiz foi no campinho que tinha lá do lado de casa.
Era um contra, nem lembro mais contra quem.
Sei que era jogo importante.
A maior parte do tempo eu fiquei no muro, só olhando.
Esquentando o banco. É foda.
Mas sabe como é a molecada. Tudo afobado, apavorado.
Tem a juventude mas não tem condicionamento físico.
Não o suficiente. Uma hora cansa.
Aí eu entrava.
E o jogo tava assim: 5 a 5.
Virava três acabava seis.
Estávamos em morte súbita, o gol de ouro.
Quem fizesse, levava.
O time adversário estava no ataque.
O Ferrugem no cruzamento.
A bola cruzada rasteira na área.
A tensão no ar.
Juca pegou de primeira
Na trave!
Para nós, sobrou o contra-ataque.
Eu na frente, sozinho.
Só um marcador entre eu e o goleiro.
Gritei: - “Toca aqui!”
Recebi. Na lateral esquerda, do jeito que eu gostava.
Toquei na frente.
Corri.
Ninguém ganhava de mim na corrida.
Corri.
Corri demais...
Estava chegando na linha de fundo, ficando sem ângulo.
Os marcadores chegando.
Na hora de chutar nem deu pra trocar as pernas.
Foi com a canhota mesmo.
Em cima do goleiro.
Ele espalmou pra escanteio.
“Uuuuuuuuuuuuuu. Grosso. Seu grosso!”
Meu time queria me matar, a bola do jogo.
Eu perdi.
O China foi cobrar o escanteio, todo mundo marcado.
Só eu sobrando.
“Toca aqui, toca aqui.”
O China até viu eu pedir a bola.
Fez que não viu.
Puxa e repuxa na área. A poeira levantando.
O China levantou a bola.
O Peterson escorou de cabeça.
O goleiro espalmou.
A bola sobrando na lateral direita.
O zagueirão deles não pensou duas vezes. Mandou pra cima.
A bola subiu, subiu, tava chegando no meio de campo.
Eu lá, sozinho.
O que eu faço?
“Domina, domina essa porra!”
“Ó o ladrão, ó o ladrão!”
Não pensei duas vezes. Mandei de primeira.
GOOOOOOOOooooooooooolllllll...
E um monte de moleque sujo em cima de mim.
Preciso confessar, sem modéstia.
Foi golaço!
Apesar de não ter visto pra onde eu chutei.
Era umas onze e meia da manhã, o sol tava alto.
Batendo bem na minha cara.
Eu não vi a bola. Eu senti ela chegando.
Assim como senti: é a hora.
Apoiei com a esquerda.
Joguei a cintura pra trás, junto com a perna direita.
E bati. Com o peito do pé.
Nem vi onde a bola entrou.
O Lajota falou que foi no ângulo direito.
O goleiro nem se mexeu.
Na verdade foi tão rápido, uma bola com efeito.
Ninguém se mexeu.
Ninguém acreditou que eu dei aquele chute.
A bola do jogo.
6 a 5. Ganhamos!
Já era. Agora era só correr pro abraço.
Chamar os “pato” de marreco.
Recolher a bola, juntar os cacos.
Tomar aquela fanta laranja gelada no bar do meu pai.
A molecada toda suada.
Não podia faltar batatinha frita ou Ebicen.
O assunto da mesa não era outro.
A bola do jogo. No ângulo.
Se não tivessem visto, falariam que era mentira.
O Cabeção chutando daquele jeito?
Mandaram eu repetir. Chutar mil vezes.
“Não acertaria um”, apostavam. Não como aquele.
Alguns disseram que foi sorte.
Que nada.
Aquele era o meu dia. Eu sabia.
Se os brutos também amam, por que os fracos não tem vez?
Matador igual Pelé.
Driblador igual Garrincha.
Abusado que nem Maradona.
Folgado igual ao Baixinho.
Fim de semana sempre tinha alguém na minha porta gritando:
- Cabeçãããããããoooo...
Já sabia o que era.
Pegava o meião, tênis de futebol de salão e a bola.
Claro, principalmente a bola.
Eles não esqueciam de me chamar por causa dela.
Na hora de escolher o time, sempre era um dos últimos.
Nunca o último, que fique bem claro.
Sim, eu era ruim. Mas não era pra tanto.
Eu gostava de jogar na zaga.
Não era minha posição favorita, mas era onde me sentia mais confortável.
Se não soubesse o que fazer, era só dar um chutão.
A molecada vibrava. “Aêêêêêêêêê...”
Melhor do que ficar na frente, a responsa de fazer os gols.
Nunca fui muito de fazer gols.
E não gostava de ser vaiado.
Apesar de não ser canhoto, gostava também de jogar na lateral esquerda.
É, rapá. Eu não era bom, mas sabia bater com as duas pernas.
Isso dava uma vantagem.
Outras vezes, gostava de correr junto à linha lateral.
Cortar pra dentro sem o marcador esperar e pá! Bater de chapa.
Bater pro gol.
Fiz vários gols assim, cortando pra dentro.
Minha jogada ensaiada.
A única, é verdade.
A galera ia ao delírio.
Eu comemorava igual ao rei
O pulo, o soco no vento.
Igualzinho.
O gol mais marcante que eu fiz foi no campinho que tinha lá do lado de casa.
Era um contra, nem lembro mais contra quem.
Sei que era jogo importante.
A maior parte do tempo eu fiquei no muro, só olhando.
Esquentando o banco. É foda.
Mas sabe como é a molecada. Tudo afobado, apavorado.
Tem a juventude mas não tem condicionamento físico.
Não o suficiente. Uma hora cansa.
Aí eu entrava.
E o jogo tava assim: 5 a 5.
Virava três acabava seis.
Estávamos em morte súbita, o gol de ouro.
Quem fizesse, levava.
O time adversário estava no ataque.
O Ferrugem no cruzamento.
A bola cruzada rasteira na área.
A tensão no ar.
Juca pegou de primeira
Na trave!
Para nós, sobrou o contra-ataque.
Eu na frente, sozinho.
Só um marcador entre eu e o goleiro.
Gritei: - “Toca aqui!”
Recebi. Na lateral esquerda, do jeito que eu gostava.
Toquei na frente.
Corri.
Ninguém ganhava de mim na corrida.
Corri.
Corri demais...
Estava chegando na linha de fundo, ficando sem ângulo.
Os marcadores chegando.
Na hora de chutar nem deu pra trocar as pernas.
Foi com a canhota mesmo.
Em cima do goleiro.
Ele espalmou pra escanteio.
“Uuuuuuuuuuuuuu. Grosso. Seu grosso!”
Meu time queria me matar, a bola do jogo.
Eu perdi.
O China foi cobrar o escanteio, todo mundo marcado.
Só eu sobrando.
“Toca aqui, toca aqui.”
O China até viu eu pedir a bola.
Fez que não viu.
Puxa e repuxa na área. A poeira levantando.
O China levantou a bola.
O Peterson escorou de cabeça.
O goleiro espalmou.
A bola sobrando na lateral direita.
O zagueirão deles não pensou duas vezes. Mandou pra cima.
A bola subiu, subiu, tava chegando no meio de campo.
Eu lá, sozinho.
O que eu faço?
“Domina, domina essa porra!”
“Ó o ladrão, ó o ladrão!”
Não pensei duas vezes. Mandei de primeira.
GOOOOOOOOooooooooooolllllll...
E um monte de moleque sujo em cima de mim.
Preciso confessar, sem modéstia.
Foi golaço!
Apesar de não ter visto pra onde eu chutei.
Era umas onze e meia da manhã, o sol tava alto.
Batendo bem na minha cara.
Eu não vi a bola. Eu senti ela chegando.
Assim como senti: é a hora.
Apoiei com a esquerda.
Joguei a cintura pra trás, junto com a perna direita.
E bati. Com o peito do pé.
Nem vi onde a bola entrou.
O Lajota falou que foi no ângulo direito.
O goleiro nem se mexeu.
Na verdade foi tão rápido, uma bola com efeito.
Ninguém se mexeu.
Ninguém acreditou que eu dei aquele chute.
A bola do jogo.
6 a 5. Ganhamos!
Já era. Agora era só correr pro abraço.
Chamar os “pato” de marreco.
Recolher a bola, juntar os cacos.
Tomar aquela fanta laranja gelada no bar do meu pai.
A molecada toda suada.
Não podia faltar batatinha frita ou Ebicen.
O assunto da mesa não era outro.
A bola do jogo. No ângulo.
Se não tivessem visto, falariam que era mentira.
O Cabeção chutando daquele jeito?
Mandaram eu repetir. Chutar mil vezes.
“Não acertaria um”, apostavam. Não como aquele.
Alguns disseram que foi sorte.
Que nada.
Aquele era o meu dia. Eu sabia.
Se os brutos também amam, por que os fracos não tem vez?
Um comentário:
Rodrigo,
valeu pela idéia. Você foi mais ligeiro, por isso ficou melhor. Voc~e captou a energia que estava no ar. Parabéns.
Abs.
Sérgio Vaz
Postar um comentário