terça-feira, novembro 14, 2006

Poema da Resistência Palestina

Carteira de identidade
Mahmud Darwish

Escreve
que sou árabe,
e o número de minha carteira é cinqüenta mil;
que já tenho oito filhos,
e o nono chegará no final do verão
Isso te enoja?

Escreve
que sou árabe,
e que com meus companheiros de infortúnio
trabalho na pedreira.
Para meus oito filhos
arranco, das rochas,
o duro pedaço de pão,
as roupas e os livros.
Não mendigo esmolas à tua porta,
nem me rebaixo
diante de tuas escadas de cristal.
Isso te enoja?

Escreve
que sou árabe.
Sou nome sem apelido.
Espero, paciente, em um país
no qual tudo que há
existe pela raiva.
Minhas raízes,
destruíram-se antes do nascimento
dos tempos,
antes do começo das eras,
do cipreste e da oliveira,
antes da primeira das ervas.
Meu pai...
da família do arado,
não de nobres senhores.
Meu avô era um lavrador,
sem títulos nem nomes.
Minha casa é uma choça campesina
de canas e tábuas,
Isso te agrada?...
Sou nome sem apelido.

Escreve
que sou árabe,
que tenho o cabelo preto
e os olhos castanhos;
que, para maiores detalhes,
cubro minha cabeça com um véu;
que as palmas das minhas mãos, duras como rocha,
picam quando as tocam.
E eu gosto do azeite e do tomilho.

Que vivo
em uma aldeia perdida, abandonada,
com ruas sem nome.
E cujos homens todos
estão nas pedreiras ou no campo...
Isso te enoja?

Escreve
que sou árabe;
que roubaste as vinhas de meu avô
e a terra que eu arava.
Eu, com todos os meus filhos.
Que só nos deixaste
estas rochas...
Teu governo não vai também – como se diz –
confiscá-las?

Então, escreve...
Escreve
no começo da primeira página
que não odeio ninguém,
nem roubo nada de ninguém.
Mas, que se tenho fome,
devorarei a carne de quem me rouba.
Então, cuidado!...
Cuidado com minha fome,
e com minha ira!


Não deixe de assistir ao filme
"Paradise Now" e ver aquilo que a mídia
não quer mostrar pra você.

Um comentário:

PENSAMENTOS VADIOS disse...

O poema é uma ode a luta a resiastência de um povo que se parece com a luta do povo da periferia.
o Poeta Rodrigo, em silêncio, tem se mostrado o grande porta-voz dos sonhos alheios, que na verdade são os que alimenta os seus.

muito amor ao povo Árabe e longa vida ao poeta Ciríaco.

sérgio vaz