TODO CARNAVAL TEM SEU FIM – ou de como o mago Cláudio
Fonseca sumiu com 17,7% de reajuste dos professores.
Cheguei a Praça do Patriarca por volta das 14hs. Subindo uma
rampa que tem acesso do metrô Anhangabaú ao lado da prefeitura, achei algo
estranho: o costumeiro caminhão de som não estava parado no lugar de todas as
outras Assembleias. Pensei: será que estou no lugar errado? Tem alguma coisa
errada. Não, nada errado: havia outro caminhão, com nome sugestivo: “Trio
Apocalipse”, parado em frente a prefeitura.
Mas não seria a primeira vez que o meu “instinto-aranha”
iria soar com a indicação de algo errado.
Fiquei por ali, aguardando encontrar alguém. Encontrei
muitos desconhecidos que vieram me parabenizar pelo vídeo de Esclarecimento
sobre a greve: pela clareza, pela coragem. Pela iniciativa. Fiquei muito feliz.
Teve gente que pediu para tirar até foto.
Dali a pouco, começa os informes da Assembléia. Mas antes,
algumas músicas. Beth Carvalho, Titãs, Raul Seixas. Danças, sorrisos,
brincadeiras. Verdadeiro carnaval fora de época.
Alguém comentou comigo: “nossa, o pessoal tá animado”.
Respondi: “não sei porque, estou há 21 dias de greve, ameaça de ponto
descontado, sendo esculachado pela TV”. É, acho que exagerei na resposta. Mas meu
“instinto-aranha” estava dizendo que aquele carnaval fora de época era muito
suspeito. E nada inocente.
Bom, o nosso não-querido Cláudio Fonseca subiu lá por volta
das 15hs e informa que, no período da manhã, houve uma reunião com a prefeitura
e algumas secretarias, que tinha um informe, se a Assembléia queria saber
naquele momento ou depois, já que eles iriam subir para finalizar a reunião e
retornar com a decisão.
Muito calmo, sereno, tranquilo. Eu achei aquilo estranho. A
praça lotada. O viaduto do Chá ocupado. A tropa a mil. E o suposto “comandante”
não convidando para a Guerra? Para de me cutucar o “instinto-aranha”.
Como a opção foi de saber sobre as informações já, Cláudio
fez um retrospecto até bem claro de toda a greve: das negociações no SINP –
Sistema de Negociação Permanente, das propostas da Prefeitura (e aqui sugiro
que PRESTE MAIS ATENÇÃO): reajuste salarial de 2011 – 6,5%; reajuste salarial
de 2012 – 4,5% (aproximado), que dava os tal de 11,46%, dividido lá nos 05
anos, ou até 2018. A nossa rejeição, a contra-proposta (e aqui, sugiro que
PRESTE MAIS ATENÇÃO): 11,46 em três anos: 2014, 2015, 2016 – 3,82% para cada
ano, com a CONDIÇÃO de não ter mais greve e nenhuma demanda adicional até 2016.
O governo ainda NÃO reconhecia o reajuste para 2013, de 5,6%. Daí foi
deflagrada a greve.
Porque pode dizer que brigamos por vários outros motivos. E brigamos.
Mas a questão salarial foi a principal. E nenhum demérito nisso. Meu ditado é:
todo trabalhador merece ser remunerado. E bem remunerado. E não estamos pedindo
absurdo. Estamos cobrando REAJUSTE SALARIAL, ou seja: reposição das perdas que
tivemos com a INFLAÇÃO. E REAJUSTE salarial é diferente de AUMENTO.
Bom, aí foi explicando, explicando, explicando e, chegou na
NOVA PROPOSTA MÁGICA DO GOVERNO: não mais dar o aumento linear de 0,01%, que
vem dentro de uma política desde 2003, com algumas quebras a partir de 2008,
mas reajustes lineares, A PARTIR DE 2014, até 2016, de 3,68%. Ah, e não
desconto dos dias em GREVE – que é um direito de todo o trabalhador.
Se você prestou atenção ao texto, a proposta é EXATAMENTE A
MESMA de quando deflagramos a GREVE: aproximadamente 3,7% para 2014, 2015 e
2016, com a diferença da exceção da cláusula de mordaça, cala-boca,
fica-quieto; a cláusula professor-não-queima-o-meu-filme. Ah: e não desconto
dos dias paralisados.
E o que os professores acharam? Sensacional. Uau. Que maravilha.
Proposta sensacional. Parabéns. Vamos votar. Peraí, mas vamos discutir. Não,
não tem o que discutir. Peraí, mas e os 17,7%. Favoráveis a proposta 01, pela
continuidade da greve. Peraí, vamos fazer defesa de 01 e outra. Favoráveis a
proposta 02 de fim da greve. Peraí, ninguém tá falando dos nossos REAJUSTES de
2011, 2012 e 2013. Pois bem, proposta 02 aprovada. FIM DA GREVE.
Claro, com observação de nosso não-querido Cláudio Fonseca: “Olhem
bem para não dizer que houve manipulação”. Imagina, Claudinho: quem iria pensar
isso de vossa senhoria...
Enquanto algumas pessoas exageradamente se abraçavam,
pulavam em conjunto, gritavam, choravam de alegria pela “vitória”, eu
perguntava para mim mesmo: peraí, mas o governo apresentou esta MESMA proposta
para pagar as perdas de 2011 e 2012. Que somadas as perdas de 2013, dão 17,7%. Agora
o governo garante o reajuste do FUTURO, não fala mais nada sobre as PERDAS DE
2011, 2012 E 2013, nosso PASSADO/PRESENTE concede o pagamento dos dias parados –
que é óbvio e todo mundo acha o máximo? Eu parei pra brigar pelos dias que
estive parado, é isso?
Isso mesmo. Xeque-mate Haddad/Calegari.
Minha percepção: desde ontem, 23 de maio, César Calegari
baixou “Mãe Dinah”: para a Rede Brasil Atual, Folha de São Paulo (de 24 de
maio) afirmou categoricamente de que a Greve estava fraca, de que ele sabia que
terminaria hoje; o discurso mais amistoso de Cláudio Fonseca; as inserções de
musiquinhas ao longo da Assembléia, para “entreter e animar os professores”
enquanto terminava de rolar a negociação foi um enredo muito bem bolado de uma
peça com final já escrito. E que precisava apenas da ratificação de um grupo
para coroar o seu sucesso. Ao menos para as pessoas que a escreveram. E foi
isso que aconteceu.
Mas e os 17,7%? E a cobrança de pagamento do REAJUSTE
SALARIAL referente a 2011, 2012 e 2013? O que fizeram, onde foi parar? A
liderança do sindicato simplesmente se esqueceu. Sei lá, se os professores não
se atentaram a isso. E ninguém mais falou nada sobre isso. E ficamos como já
estamos. Os professores com o seu GRANDE REAJUSTE:
- 0,01% para 2011,
- 0,01% para 2012
- 0,18% para 2013
Aos colegas educadores que pulavam, gritavam e chorados
entusiasmados pela “vitória” de garantia do pagamento sobre dias parados e
reajuste linear de 3,68% oferecido pela prefeitura, retirado e oferecido
novamente com um outro nome e outra cara: parabéns. Mas para mim ficou um gosto
amargo de troca de seis por meia dúzia.
Apenas a título de esclarecimento: eu votei a favor da
CONTINUIDADE da Greve. Aceitaria este acordo SE CONDICIONADO ao pagamento dos
17,7%, referente as nossas PERDAS dos anos anteriores. Afinal, entramos em
GREVE para brigar pelas perdas. E saímos felizes com a garantia de PROMESSAS.
Enfim. O que fica é que batalhei muito por este momento. Me envolvi
como em tudo o que eu faço, principalmente quando relacionado a #EDUCAÇÃO. A
resposta ao vídeo que fiz foi linda: olhando para ele exatamente agora, 30
horas depois de publicado, mais de 12.500 visualizações. Sucesso. Acho que foi
uma boa atitude. E sigamos. É o melhor que tem pra hoje. Só que não.
Parabéns a Fernando Haddad e Cesar Calegari pelo golpe de
mestre. Parabéns aos sindicatos, em especial ao SINPEM e o sr. Cláudio Fonseca
por ignorar e fazer SUMIR da pauta de negociação o REAJUSTE SALARIAL de 2011,
2012 e 2013 – de 17,7%. E parabéns aos educadores que acreditam que fizeram o
melhor ao votar pelo final da greve. Eu acho que não. Não conseguimos nada de
novo. Mas respeito.
Como diria a minha avó: cada um tem aquilo que merece.
E acabo suspeitando que, a educação está no pé em que está
não por culpa de governos, secretários, sociedade, apenas: a culpa é nossa,
mesmo. Nós, educadores e educadoras, somos os principais responsáveis pela
situação em que vivemos.
Afinal, somos a “massa” crítica que permitiu e permiti que chegássemos
onde chegamos. Nós permitimos que fizessem de nós o que nós somos hoje.
E fica a pergunta: o
que hoje em dia significa isso?
Rodrigo Ciríaco
Educador, escritor, traficante e ativista cultural
@rodrigociriaco
Face: Rodrigo Ciríaco
2 comentários:
Pow Ciríaco, concordo com boa parte do que você disse... Na verdade 90%... Acho que tem só uma coisa que temos que superar e, para quem esteve nos comandos de greve, acho que fica bem nítido... Essa crucificação personalizada do Cláudio... Não estou defendendo ele, ano passado estive lá e joguei tudo que pude no caminhão... Só que, quase sempre, esquecemos no mínimo da oposição, que no ano passado, como neste, deu anuência à palhaçada do presidente (ou você acha que alguém faz esse tipo de manobra sozinho)... parte desta oposição hoje está no governo, pessoas que fizeram greve e comandos o ano passado, hoje no poder agem sem o menor pudor... Votei pela continuidade da greve, mesmo sabendo a dificuldade que seria construí-la nos dias posteriores - avaliando o refluxo que você também deve ter avaliado... Votei no sejaoquedeusquiser e sabendo que "cada um tem o que merece"(acho que é o trecho mais importante da sua crítica porque é generalizada e é uma autocrítica também, né?)... Acho que nada, nada mostramos ao prefeito que não somos completamente passivos e o desgaste à sua gestão, acho que foi razoável para um primeiro ano... De qualquer forma já vejo por aí no FB e em blogs de menor qualidade, gente dizendo que quem não entrou na greve tinha razão, que o Cláudio é um safado e que nunca mais farão greve pois não são "massa-de-manobra", pessoas incapazes de fazer a autocrítica coletiva...
Concordo em gênero, número e grau!
Postar um comentário