Um juiz me diz:
Minha casa não pode ser morada
Minha terra não me tem valentia
Ela foi vendida
Para grilos de uma gaveta
Ela foi tomada
Para os homens da lei
Do mais forte.
Um coronel re-fala:
A reintegração precisa ser cumprida
A posse está marcada
A ferro, fogo e brasa.
Eles enviam homens
Escopetas, chicotes e escudos
- nada me protege -
Gritos de luta
Querem antecipar o meu luto.
Não vão conseguir.
Suspiro e clamo para o céu
Uma água clara e salgada
Banha o meu rosto
A mensagem foi dada:
Resiste. Resiste,
Esta é tua terra,
Esta é tua serra, este é o teu chão.
Resiste.
Numa mão, seguro firme a minha espada
Enquanto lembro de Jorge
Enquanto sinto o bafo quente do dragão
Assoprando a minha nuca.
Repenso um dito de minha vó:
Resiste, mia fia
Faiz tempo, sabemos
O primeiro rabudo caído
Não será o último
Prepara-te!
Outros virão.
Resiste.
Fortaleço-me.
Noutra mão, suspiros de um pequeno coração
Pede proteção sobre meu braço. Ele baqueia.
Meu filho tem uma ano e alguns meses
Meu filho tem um desafio pela frente
Meu filho tem medo
Ele não quer perder a casa
Ele não quer perder a terra
Ele não quer perder a mãe
Ele não conhece - ainda -
A história de Jorge, sua espada
A determinação de Jorge
Contra o dragão.
Aperto-o contra o meu peito
Transmito o que resta de minha calma
O que sobra de minha exígua força num sussurro
Poderosa canção de ninar
Que se inicia dizendo:
"Mi hijo, no te preocupes
Ellos no pasan
Hoy, ellos no pasarán..."
3 comentários:
Rodrigo: arrepiei.
Cê me dá licença pra usar por aí?
beijo.
Liroca:
Fique a vontade.
Grande beijo
Muito maneiro o poema. Vou publicar no meu blog.
Sobre o seu livro, onde eu encontro pra comprar?
abs
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