Salve, salve, rápa.
Hoje se completam 06 dias que estou pra cá, em terras europeias.
Havia me comprometido de tentar fazer um relato, um registro diário das
atividades e não consegui. O lado bom da parada é que não consegui por não
ter tempo de fazer, tão grande está a loucura e a correria de atividades que
estou participando por aqui.
E não é reclamação, não. Na boa: está bom demais. Nunca
imaginei alçar, alcançar algo deste tipo. E como estava trocando ideia com o
Ferréz: conseguir isso aqui, é bônus! Extra-bônus.
Bom, vou tentar fazer uma descrição direta e objetiva
primeiro, do que fiz por estes dias:
14 de março: chego em Milão as 14:00hs, pego trem e ônibus
para Bologna. Chego por volta das 16:00hs. Encontro com Matilde e Paula –
tradutora do livro “Eu sou favela” para o Italiano – e a Paula Anacaona –
Editora e responsável pelo livro na França. Vamos para um hotel-pensão, dá
tempo de tomar um banho, comer um lanche e: borá pra livraria Modo InfoShop pra
fazer o bate papo.
15 de março: acordo, passeio bem rápido por Bologna, vou a
uma Universidade para tentar falar com alunos estudantes de literatura
brasileira, a convite de uma aluna que estava na leitura na livraria, mas o
professor não permitiu – porta na cara (rs). Descansei um pouco de tarde e, a
noite, lançamento do livro e debate na Associazione Griò. Jantar e cama;
16 de março: acordamos cedo, pegamos o carro e viajamos de
Bologna para Schio, cidade do interior da Itália, próxima das montanhas.
Chegamos por volta das 13hs. Almoço com a família de Matilde, volta rápida
pelas montanhas, as 17hs estávamos num prédio da prefeitura da cidade, para
leitura e apresentação do “Io Sonno Favela”, para mais de 100 (cem) pessoas!
Jantar, casa, cama.
18 de março: cedo caímos da cama e Universidade de Milão.
Bate papo com cerca de 100 estudantes, ligados a área de letras, duas turmas:
uma das 10hs as 12hs, outra das 12:30hs as 14hs. Saímos correndo da
Universidade, táxi, aeroporto e viagem para Paris. Chegamos por volta das 20hs
na cidade Luz.
19 de março: levanto cedo, 09:30hs na estação de trem de
Paris. Encontro com Ferréz pra somar no time, viajamos para Bruxelas (Bélgica)
para apresentação, batepapo, leitura na Universidade Livre de Bruxelas. Várias ideias
com estudantes, acabamos por volta das 18:30hs. Pegamos o trem nas 20hs. Volta
pra Paris.
20 de março: UFA! Entendeu porque não deu para escrever
antes? Só correria. Trabalho na veia.
Agora, vamos a um relato mais tranquilo, reflexivo.
Estou muito, muito feliz com essa viagem. Apesar da saudade
de casa, do nó que aperta em meu peito cada vez que vejo a Malu – minha Vida –
mas fato é que essa viagem está sendo muito importante, para o meu trabalho
como um todo, mas para outras coisas.
Em todos os lugares que eu tive, fiz apresentação do texto,
interpretações. A galera aqui pira quando recitamos como fazemos normalmente,
nos saraus. Simplesmente não tem nada similar acontecendo por aqui, seja na
Itália, seja na França – até porque os Slams tem uma proposta diferente. Então,
a maneira como trabalhamos, lemos e recitamos os textos, impressiona muito,
muito aqui. Principalmente porque eles tem a imagem bem cristalizada do
escritor “sério, com olhar reflexivo, terno e gravata emoldurado na parede”. É uma
puta porrada.
Outra coisa: em todas as atividades que estive fiz questão
de enfatizar que faço parte de um movimento de literatura marginal-périférica,
que se fortaleceu muito na cidade de São Paulo nos últimos dez anos, que
realiza diversas atividades em muitos pontos da cidade, reunindo dezenas de
pessoas, todos os dias da semana, em torno da literatura. E a galera fica
impressionada com isso, pois não tem semelhança com nada que acontece na Europa.
Ou seja: nóis tá foda, mesmo!
E estou bem tranquilo, relaxado nos bate papos. Algumas vezes
cai apenas pra falar da questão da violência, da miséria, das dificuldades, ou
do outro lado da imagem que muitos tem agora do Brasil, como se fosse a “nova
maravilha mundial”. Tanto para um lado quanto para o outro, a gente quebra um
pouco essa vidraça: pra não reforçar que a quebrada é só violência, só miséria,
e que tem pessoas se articulando e fazendo bonito, e também que o Brasil não é
as mil maravilhas que se pensa, e que é necessário ter uma postura mais crítica
em relação aos avanços que temos.
E claro, principalmente: puxamos, arrastamos o debate pra
literatura que é o que a gente gosta e veio fazer aqui.
Meus contos “A.B.C” e “Miolo Mole Frito” causam bastante
impacto. Principalmente o “Miolo Mole”, mesmo muitos não entendendo muito bem o
português, conseguem captar a situação, o silêncio incomoda e a tensão é tão
grande que é possível pegar uma faca e cortar um pedaço no ar.
Fiquei feliz também que, na Itália, em diferentes lugares e
por diversas pessoas, elogiaram muito o meu conto “Um estranho no cano”.
Gostaram muito da estrutura narrativa, da surpresa no final.
E cara, fiquei feliz demais em entender que, ao contrário do
que se pensa, não viemos com a vida ganha aqui na França e na Itália. A Paula
Anacaona, que publicou a edição de “Je Suis Favela”, e depois “Eu Sou Favela” e
agora “Io Sonno Favela” tem uma pequena editora, faz um trabalho totalmente
independente e investe boa parte de seus recursos pessoais para bancar este
trabalho, que vem mais de algo que acredita e que quer investir. E vendo do
mercado editorial brasileiro e do mercado europeu, é uma baita situação
arriscada, uma grande ousadia e, assim como a gente, ela coloca a “mochila” nas
costas – no caso, a maleta no chão – e vai que vai com os livros pra
distribuição. Quer dizer, mesmo em terras europeias, estamos rompendo fronteiras
com uma editora independente, guerreira, que cava trincheira por trincheira,
espaço por espaço.
Isso dá orgulho e de certa maneira me faz sentir em casa,
pois já faço isso há pelo menos 05 anos no Brasil. Sei o que estou fazendo, do
que estou falando.
No mais, é isso. Hoje, finalmente as atividades tem início a
partir das 14hs. Pude dormir um pouco até mais tarde, consegui acesso a
internet e tempo livre pra sentar, escrever este texto. As 14hs encontro Paula
e Ferréz, vamos pra cidade de Poitiers, para a Sciences Po, uma escola de
ensino superior referência aqui na França. Fazemos uma atividade por lá, hoje,
dormimos, fazemos outra atividade de manhã, voltamos pra Paris e, se der tempo,
passamos na abertura do Salão do Livro, o evento em que participaremos em
parceria com a Embaixada do Brasil na França.
Seria talvez até pecado dizer que “estou cansado”, mas seria
mentira se não admitisse. Mas é um cansaço bom, de uma correria, uma troca de ideias,
reflexões, por não parar quase em nenhum momento por esta semana para falar de
literatura, militância na quebrada, educação e outras. Então, de forma alguma
vou reclamar. Estou feliz por até demais. Nunca, nem nos meus melhores sonhos
eu imaginei estar passando e vivendo o que estou vivendo, agora, só por conta
da minha militância, da minha escritura. O objetivo nunca foi esse, mas
agradeço – e me reconheço como merecedor – deste bônus.
E pra não deixar batido, pro Zé-povim, só tenho a dizer: “vai
chorar, vai sofrer, e você não merece, mas isso acontece” – rsrs. Cartola sabe
tudo.
Tô aprendendo muito. Quando voltar, pra quem quiser, quero
sentar, trocar ideias, compartilhar este aprendizado. No momento, tenho muita
coisa a oferecer, principalmente quem é da quebrada como eu sou. Tenho certeza
que estou cavando espaços e ajudando a abrir portas que, num futuro bem breve,
vai dar frutos para outros parceiros e parceiras chegarem por aqui, fazerem
também este movimento que estamos fazendo. Quem acredita verá. E virá. Pode pá.
Bem, por enquanto é tudo isso. Agora, tomar banho, arrumar
malas e, seguir na batalha. Antes, algumas pequenas imagens do que deu para aproveitar, entre uma pausa e outra:
minha primeira pizza em terras italianas e, devo dizer: são paulo é melhor - rsrs
na cabeceira do hotel-pensão, o velho e o mar de hemingway (quer companhia melhor?)
afresco de igreja
massa, massa,
olha o tamanho do queijo. bom e barato.
um dos cafés que tem cadeira para a praça, em Bologna
indescritível. maravilhosa. minha primeira "pasta".
eu quero uma casa no campo igual a essa. em Schio.
queria cortar um pouco de lenha, mas não tivemos tempo.
na floresta, cuidado com o lobo mau - rs
essas montanhas guardam histórias de conflito, durante a primeira guerra mundial (itália x austria)
citação no jornal italiano
e teve um domingo que acordei com esta vista... que chato - rs
Bélgica
monumento à primeira guerra
sempre. minha linda.
molecada da escola
caraca, véi: pensa num negócio gostoso.
visita a livraria, claro.
mijão - rs
símbolo na cidade de Bruxelas
sim, energia limpa e sustentável: aqui já é possível
“Hasta la Victória, siempre!”
Paris, 20 de março,
Rodrigo Ciríaco
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