quinta-feira, maio 26, 2011

BANALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA NA ESCOLA

Há pouco mais de um mês, um jovem invadiu uma escola no Rio de Janeiro, em Realengo, efetuou vários disparos contra as crianças e adolescentes que estudavam na instituição de ensino e, só parou, quando foi alvejado por um Policial Militar e logo em seguida suicidou-se.

Notícia extremamente contada e recontada de norte a sul, deste e de outros países.

Ontem, uma bomba de fabricação caseira explodiu no banheiro de uma escola, em Jundiaí. Cinco alunos ficaram feridos. Fumaça, cano de água rompido, aulas interrompidas e: vídeos, vários vídeos pululando na Net, mostrando ao invés da indignação, adolescentes rindo, achando "dá hora" o acontecido.

Sexta-feira teve briga na saída da minha escola. Apesar de sair as 12:30hs, fiquei até as 14hs tentando esclarecer e resolver a situação, junto com outros professores, pais, direção e uma policial militar. Sexta-feira também teve a explosão de uma bomba na escola. Também teve segunda, terça e ontem. Talvez tenha hoje. No pátio. Durante o intervalo. No meio de aproximadamente 300 alunos que aproveitavam o curto momento de descanso.

Não houve feridos. Ainda?

Ninguém também foi responsabilizado.

Terça-feira tivemos reunião do Conselho de Escola. Para tratar assuntos como Festa Junina, Comissão de Formatura entre outros. Abordei o assunto que para mim era o mais importante na reunião: os problemas da escola. Falei sobre a nossa dificuldade na organização do espaço escolar: alunos não respeitando as regras do espaço e de convívio, alunos fora de sala durante a troca de aulas, alunos ocupando corredores quando deveriam estar em sala. A impunidade. Nossa falta de posicionamento e atitude perante algumas coisas. Estamos deixando passar muita coisa batido.

Ou melhor, nem todos. Eu não deixo. Mas a minha ação tem limites. E a necessidade de apoio e suporte de outras partes envolvidas no processo pedagógico.

Como bem disse uma professora em vídeo recém publicado na Net, não posso ser o "redentor" desse país, de quadro e giz na mão. Com o salário que ganho, muito menos. E nem se ganhasse mais. Não posso arcar com essa responsabilidade sozinho. E não podemos encarar a situação catastrófica que existe na educação hoje como mera "fatalidade". Algo precisa ser feito. Hoje. Agora. Daqui a pouco vai ser tarde. Mais pessoas podem sair feridas. Se o pior não acontecer.

E não se trata de ser pessimista. Estou apenas tentando ver a situação com a sinceridade que ela exige. Sem maquiagem e sem cinismos.

Rodrigo Ciríaco




2 comentários:

.:: Camila ::. disse...

As vezes tenho a impressão que trabalhar na educação não é algo de gente normal. E ai?! Nós não somos mesmo!!! Se a educação fosse algo sem importancia, ninguém precisaria dela. Futilidade. É o que é pro pais em que vivemos hoje. Bombas, tiros, risadas, funks... Mas é estranho tudo isso... é um ambiene que faz falta, um ambiente que nos poe em perigo. E o que fazemos por isso?! Podemos até não fazer nada atitudinalmente para melhorar, mas só o fato de nos calarmos já é o inicio pra dizer que não estamos satisfeitos com o sistema educacional que temos.
Um desabafo seu, que torna-se meu e tenho certeza que de alguns (infelizmente somente alguns) outros professores amigos. Se conformar com a situação é mais simples... o complexo da medo.
Pela educação, sempre!

Jorge Willian da Costa Lino disse...

Trabalho na referida escola de Realengo e participo do indicato. Este vive denunciando as diversas formas de violência que ocorrem nas escolas do Rio (inclusive as que são decorrentes das ações de policiais com seus caverões em favelas), mas nada ou quase é feito para solucionar estes grandes problemas do país. Espero que aí vocês consigam uma forma de diálogo com os que "brincam" de criar perigos para todos.