Há dez minutos o sinal bateu. Ainda tem gente batendo na minha porta. Abro, do lado de fora, uma patota. Uns dez alunos. Deixo entrar. Olhos vermelhos. Sorrisos arregalados. Falação alta. Continuo o meu trabalho.
Vou tentar explicar a matéria e sou interrompido pela motoca: Zoom, Zoom, Rrrrééééé. Peço silêncio. Recebo risadas. Os muleque alterado. Peço colaboração da sala. Ha ha ha! Vinte minutos se passaram, ainda não consegui dar a minha aula. Não como queria. Não como deveria. Peço aos meninos pra saírem da sala.
"- Valeu..."
Irritado, continuo a tentar trabalhar com o que resta da aula. Vinte e cinco minutos. Passo a matéria, explico o texto. Perguntas? Alguém bate na porta. A carteirinha. Distribuo. Hora da saída. A sala vai embora.
Na porta, me esperando, alguns meninos que tirei da sala. Querem a carteirinha. Digo não. "Pô mas a carteirinha é minha." Explico que eles não colaboraram. Vou reter a carterinha. "Entrega aí, professor..." Não. "Dá essa porra, logo." Ele vem em minha direção. Eu só peço aos meus pensamentos: em mim, não encoste a mão. "Dá aí, mano!" Não. Ele bate na carteira, chuta a cadeira. "Porra, caralho, vai tomá no cú, essa merda de escola é mó zona, não posso pegá nem a carteirinha!" Ele sai. Fica me fitando. E o meu sangue pulsando, correndo forte. Nervos a flor da pele. Tento me acalmar. Essa só foi a primeira aula.
(Texto ficcional claramente não inspirado em fatos reais, tendeu?)
Um comentário:
A banalização da ferramenta mais importante da sociedade é incrível, o que o governo fez, ou melhor, não fez pela educação faz com que cheguemos a esse nível.
Mas é só uma história de ficção, ninguém precisa se preocupar... Ufa, porque eu QUASE acreditei.
Bruno Veloso - Periferia Invisível
Twitter: @brunovelo
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