terça-feira, novembro 17, 2015

EU ACREDITO É NA RAPAZIADA. NA MOÇADA. NOS ESTUDANTES

EU ACREDITO É NA RAPAZIADA. NA MOÇADA. NOS ESTUDANTES!

11 anos como estudante de uma escola estadual. 05 anos como estudante de uma universidade estadual. 10 anos como professor de uma escola estadual. Tenho 34 anos de idade e destes, 26 anos tem relação direta com o Estado, primeiro como estudante, depois como educador. 20 anos dele submetido ao governo do PSDB, que governa SP desde 1995.

Agradeço a quem sou. Agradeço a quem me tornei. Com uma grande ressalva: mais do que resultado da educação do governo do Estado, sou resultado principalmente do confronto, do conflito contra os desmandos deste governo. Desde a época de estudante, na antiga EEPSG Irene Branco da Silva. Do autoritarismo de uma direção antidemocrática que impediu que alunos fizessem uma festa para arrecadar fundos a um professor querido que estava doente. Passando depois pela USP – Universidade de São Paulo, e 05 (cinco!) greves. A maior, em 2002, durou mais de 100 dias. E foi a mais vitoriosa. Estudávamos em salas com 200, 250 pessoas. Era necessário a contratação de mais professores. Ofereceram 03 para a História. Paramos. Foi duro. Briga boa. Longa. E válida. Ao final, os 03 se multiplicaram. Viraram 17. Não resolveu. Mas amenizou muito nossas vidas.

Mas a luta maior ainda estava por vir: professor na Escola Estadual Jornalista Francisco Mesquita. E descobrir que, se a máquina de moer gente chamada escola funciona da maneira como está, a culpa principal é do governo sim, que investe mal, planeja mal, administra mal, fiscaliza mal. Enfim, não tem interesse que funcione bem. Mas a culpa, é também dos profissionais da educação. De boa parte deles. Que aceitam sim o funcionamento da máquina, que executam as ordens, sem sérios questionamentos. Que se aproveitam, em alguns casos, do péssimo funcionamento do Estado em benefício próprio. Infelizmente, é fato.

Em 10 anos de Estado, não foram poucos os embates com colegas, que ocuparam cargos de dirigentes, supervisores, diretores, coordenadores – todos professores – por serem omissos, coniventes, agirem na ilegalidade. Desviando recursos públicos, superfaturando os cofres, favorecendo colegas em detrimento da lei; utilizando do público como se fosse privado, falsificando documentos, livros de ponto. A lista é longa. E conhecida: denúncias foram feitas, processos foram abertos. Legalmente, pouca coisa deu certo. Profissionalmente, tenho orgulho por nunca ter compactuado, nunca ter aceitado as injustiças que tive conhecimento.

E quem sempre mais sofreu, na mão do Estado, na mão de alguns profissionais que deveriam servir a sociedade mas serviam a seus próprios interesses? Quem? Todos. Professores sofrem. Funcionários sofrem. A sociedade sofre. Mas, principalmente, os estudantes. Jovens, adolescentes, crianças. Alunas e alunos da rede estadual. Sempre joguete. Sempre objetos. Sempre alvo da ausência de políticas públicas eficazes que fortalecesse a formação e um bom ensino. Crescendo com uma educação precária. Que admite alunos em séries avançadas com buracos no seu aprendizado. Analfabetos. Que permite que estudantes fiquem semanas, meses sem professores de determinadas disciplinas. Sem atingir a carga mínima de estudo. E serem aprovados. Empurrados. Expulsos, quando necessário.

Mas rapaz, tudo tem limite. Tudo tem uma hora. E a hora chegou.

Estudantes de escolas públicas estaduais tomando por posse aquilo que já é deles por direito. Tomando de fato aquilo que já é deles no discurso. Ocupando na prática aquilo que sempre foi deles, ao menos na teoria. Estudantes, ensinando a todos uma verdadeira aula de cidadania.

Independente do resultado (o jogo tá rolando), as ocupações das escolas públicas estaduais contra a reorganização(?!) do ensino no Estado, já são uma grande vitória. Política. Uma lição: pedagógica. De que tanto na prática do ensino quanto na execução de políticas públicas, é preciso considerá-los como sujeitos do processo. É preciso consultá-los. É preciso dar voz, voto e veto, se preciso para tomar as decisões. Não podemos fazer sozinhos. Não podemos fazer a revelia deles. Não podemos fazer por eles. Não podemos, não devemos e não faremos. Simplesmente porque eles não deixarão mais. E esse é o ensinamento mais belo, mais forte, mais potente que estes jovens, adolescentes, crianças estão nos repassando. Depois de décadas falando em protagonismo, postura crítica, posicionamento político, autonomia, eles entenderam. Estão praticando. Estão fazendo da maneira deles. E é fantástico. É revolucionário. É irreversível. E você pode não gostar, mas vai ter que engolir.

Todo apoio, toda solidariedade aos estudantes que ocupam as escolas estaduais. Muito orgulho, muito amor. Como estudante, como educador, como um lutador pelos direitos dos estudantes e da educação, sinto-me honrado e feliz por estar vivo e acompanhar a escrita desta página em nossa história. Vocês enchem meus olhos de lágrimas, meu peito de esperança e minha caminhada de alegria por ter sempre acreditado principalmente em vocês. Por estar há muito tempo ao lado de vocês. E por querer estar sempre. Obrigado, obrigado, obrigado.

#NãoFecheMinhaEscola
#OcupaEscola

Rodrigo Ciríaco
Educador e Escritor
Coordenador dos Mesquiteiros

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