sábado, janeiro 26, 2013

#10 ANOS! Militância cultural, social



Não digo que parece ontem porque, não parece. O corpo cansado, as olheiras visíveis, mais dúvidas do que certezas – e achei que quando estivesse aqui seria o contrário – mostram que o tempo passou. Está passando. Mas também não faz taaaaanto tempo assim. Faz uma cara.

Exatos 10 (dez) anos, que comecei a minha militância cultural, social. Nos anos de 2003. Cursando o 04 ano do curso de História, na USP. Os questionamentos já vem de antes, da adolescência. De ouvir de Racionais à Legião Urbana. Das caminhadas como Office-boy, do observar a minha inquietação. Das greves, dos protestos juvenis. De um incômodo.

Em 2003, consegui expressar um pouco esse por quê. Tinha que fazer um trabalho de História Oral. Conhecer algum grupo, realizar uma entrevista, uma pesquisa. Redigir o trabalho. Tirar minha nota e, tudo ok. Assim eu cheguei na Ocas” (http://www.ocas.org.br/), para conhecer um pouco melhor o projeto, suas atividades. Entrevistar um dos vendedores. Fui agraciado com uma entrevista maravilhosa com o Seu Augusto. Quem esteve na Ocas” no seu início, vai se lembrar muito bem dele. De sua determinação. Seu lirismo e poesia. Seu Augusto era figuraça.

Pois bem, fiz a entrevista, fiz o trabalho, tirei 10 e ficou um questionamento: e aí? O que posso devolver pra eles? O que darei em troca? Não sabia. Questionei isso, inclusive, com uma orientadora do trabalho, que simplesmente respondeu: “infelizmente, é assim. Não tem troca. O que você pode fazer é repassar o trabalho, mas é isso”.

Isso? Isso eu achei pouco. Daí comecei a ser voluntário/militante no projeto.

Foram 03 anos de trampo, que envolveu desde limpar o chão, fazer comida, atender vendedores; ir nos albergues divulgar o trampo, fazer mutirão de divulgação da revista, participações em passeatas pelos direitos das pessoas em situação de rua; reuniões, oficinas de escrita, viagens, brigas e muito, muito aprendizado.

Foi com a Ocas" que visitei, o V Fórum Social Mundial. Iniciei o contato com a galera do Fórum Centro Vivo, espaço que luta por um centro da cidade mais democrático, e que conta com a participação de movimentos de moradia, ambulantes, população em situação de rua, adultos e crianças.

Aliás, foi assim que conheci em 2005 a Fundação Travessia, instituição que trabalha com crianças e adolescentes em situação de rua e que atuei, por 09 meses, como educador social, trabalhando com a molecada no centrão de São Paulo, no Vale do Anhangabaú, Sé, Amaral Gurgel, República e por aí vai.

Saí em 2006, quando me efetivei no Estado, trabalhando em uma escola. Meu sonho, aquilo pelo qual eu me preparei desde que entrei na faculdade. E achei justo sair pois tinha consciência de que, a escola, exigia a minha militância, a minha dedicação exclusiva. E foi assim que comecei minha vida na educação. E foi assim que começou meu trabalho de difusão da literatura na escola. O “Literatura (é) Possível”.

Este ano, já são 07 anos deste trampo na escola. Em abril, 04 anos que conto com o apoio dos Mesquiteiros. Já realizamos saraus, encontros literários, lançamento de livros, peças de teatro, entre outros. Hoje em dia, já temos uma pequena estrutura, boa. Não suficiente para garantir a sustentabilidade do grupo, mas a gente corre atrás. Muito melhor do que os tempos em que tirava grana do meu bolso pra investir no projeto. E foram três anos fazendo isso. E, pra quem ganhava salário de professor, era muito embaçado.

Bem, não sei se estou ficando velho, mas já são 10 anos. Militância cultural, social e também literária. Já lancei 02 livros de autoria própria. Já organizei uma coletânea. Já participei de mais de uma dezena de outros, como convidado. Já fui tese de faculdade, mestrado, TCC. Já tive textos traduzidos para o espanhol, alemão, francês e, a partir de março, para o italiano. Acho que isso deve ter algum valor.

Como disse, as dúvidas continuam muitas. O trabalho, ainda mais difícil. Contam-se o desgaste – que existe –, a família, que cresceu, os trabalhos, que aumentaram – não necessariamente com aumento de ganhos – e os amigos: muitos, ficaram pelo caminho. Ou porque desistiram, ou porque foram para outras veredas. Ou porque tretamos mesmo, faz parte.

Mas muitos outros chegaram, somaram. Pessoas valiosas, valorosas, que me fazem acreditar. Assim como novas experiências. Dez anos de caminhada não é pouco, mas é quase nada. Apenas dez por cento do que eu gostaria de fazer ainda. Chegar aos 100.

Espero que eu resista. Ôpa. E espero também que não esqueça, nunca, porque escolhi seguir por aqui.

Rodrigo Ciríaco

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