quarta-feira, outubro 24, 2012

Sobre os #GUARANI KAIOWÁ, a quem possa interessar


(Los desastres de la guerra, Goya)

"Homem branco não quer saber se índio passa fome e não tem mais força pra viver mas faz força para se matar enforcado. Em baixo de uma árvore, ajoelhado. Corda no tronco, pés no chão, suicídio com os joelhos dobrados. O desespero da vida supera o medo da morte. Homem branco não acredita na morte. Julga-se blindado. Lugar no céu, paraíso conquistado." (em DOCES BÁRBAROS, 100 Mágoas)


Acompanho notícias da situação dos índios Guarani-Kaiowá há cerca de 08(!) anos. Isso mesmo, 08 anos. E há oito anos atrás, já existia há tempos o extermínio, o massacre e os suicídios, de um povo há muito oprimido, violentado.


Infelizmente, a situação dos Guarani-Kaiowá sempre fez parte daquelas notícias que as pessoas tendem a não discutir. Não se importar. A, simplesmente, ignorar.


Eu, na minha estúpida impotência, escrevi um texto chamado DOCES BÁRBAROS no 100 Mágoas, na qual falo um pouco da questão indígena, e cito justamente estas questões, e algumas outras.


E fico #FELIZ em partes, por ver que há uma mobilização, uma atenção nas redes sociais para discutir esta questão. Mas, por acompanhar este problema há 08 anos, fico #TRISTE por achar que é um pouco tarde. Demais...


Quem quiser ver o meu texto na íntegra, publicado no ano passado, segue abaixo:



DOCES BÁRBAROS (Rodrigo Ciríaco, 100 Mágoas)


Homem branco superamericano faz campanha contra Índio que toma poder no país subamericano. Por debaixo dos panos. Descontrolado. Apesar de Índio chegar ao poder pelas vias democráticas, santinho na mão, chapa e eleição, invenções do homem branco democrático. Apesar de fazer tudo por cima do pano, Índio é chamado de Autoritário. Atrasado. Homem branco não entende por que Índio quer nacionalizar gás, riqueza que desconhecia antes da chegada de Colombo, Cortez. Bartolomé de Las Casas e Pizarro. Índio só tinha terra, milho. Ouro, prata e obras que não eram feitas só de barro. Índio lembra homem branco que pobreza, eleições e autoritarismo são palavras que não existiam no seu antigo vocabulário. E apesar de ser índio aprendeu, e não abre mão do seu direito democrático. Índio quer ser cidadão. Cidadania pra índio é o direito de ter o seu próprio chão. Cultura, respeito e tradição, na cidade ou no mato. Homem branco anuncia no caixote eletrônico notícias contra o Índio politizado. Índio é retrogrado, impede o desenvolvimento da civilização. O desmatamento, o aumento da produção e a morte por desnutrição de mais de uma centena de crianças em aldeias de Piauí e Dourados. Índios desnutridos. Crianças sem brilho. Extermínio calado. Índio não quer mais papo com presidente branco de país superamericano que, ao contrário dos homens brancos subamericanos, sempre foram mais eficientes e conseguiram que os Índios de país superamericano fossem dizimados. Homens brancos superamericanos não dão bola, têm novos problemas e estão ocupados. Hermanos. Índios miscigenados. Homens brancos subamericanos são atrasados. Tem saudade de Cortez, Pizarro. Jesuítas, Santa Igreja. Vivem no passado. Bandeirantes, capitães do mato. Caçadores de índios e fugitivos escravos. Homens fortes, dignos, bravos, que dizimaram centenas de índios. Índio quer plantar a luta de Tupac Amaru, apesar de sangrado, esquartejado, suas partes em sacos espalhados, como semente para índio é aguardado. Índio lembra índio que, antes, todo dia era dia de índio. Mas agora eles só têm o dia dezenove de abril para lembrar os antepassados. Ou o dia vinte pra ser queimado enquanto dormia no Planalto Central, após as comemorações do dia do Índio. Fogo sagrado. Ou o dia nove de julho, para Tupã me olhar nos olhos, nas estreitas ruas pedregosas de Parati, saltar pequenos buracos e aos seis me pedir um trocado. Compra sovête? Sorvete é invenção de homem branco, que diz que os índios vestem roupa, falam português e na porta do bar dão um trago. Estão cada vez mais aculturados. Homem branco legalizado chama polícia, expulsa do comércio em Parati Tupã, seus agregados e seus ilegais artesanatos. Pra fora, one, little two, little three, little indians! Sem terra, sem mata. Sem o pequeno bote. Desarraigados. Homem branco não quer saber se índio passa fome e não tem mais força pra viver mas faz força para se matar enforcado. Em baixo de uma árvore, ajoelhado. Corda no tronco, pés no chão, suicídio com os joelhos dobrados. O desespero da vida supera o medo da morte. Homem branco não acredita na morte. Julga-se blindado. Lugar no céu, paraíso conquistado. Homem branco só quer saber de trabalhar e vender. Vender. Se julga eternizado. Índio atrapalha as vendas de homem branco. Índio atrapalha o desenvolvimento, a compra do gás e da expansão de país subamericano no mundo globalizado. Índio nem é cidadão. Que saudade de Cortez e Pizarro. Como era gostoso o meu francês. Os brancos, bandeirantes, espanhóis. O tradicional português. As guerras justas. Jesuítas e os índios catequizados. Homem branco subamericano aguarda apoio de homem branco superamericano para acabar logo com essa brincadeira de mau grado. Índio faz parte da história, antropologia social. Só é bom no museu. Boneco de cera, empalhado. Homem branco não queria se preocupar com Índio. Não entende Índio de cocar e gravata. Civilizado. Homem branco espera logo acabar com essa brincadeira. Nem que seja na bala. Arco e flecha e tacape. Na palm ou no tapa. No mato. Diplomacia do canhão. Presente de Homem branco pra Índio. Doces bárbaros.


3 comentários:

Unknown disse...

concordo. indio precia de proteção. vide "veias aberta da américa latina"

agora vamos concordar que de alguma forma, os indios precisam não apenas de um processo de proteção, mas talvez também de inclusão. no mundo ideal, eles seriam respeitados e não estuprados. mas não estamos neste mundo. façamos algo bom portanto com o que temos nas mãos, acho eu.


monkeynauta.blogspot.coM

Unknown disse...

Talvez voce pudesse tambem escrever um artigo sobre o massacre que o comunismo chines promove contra os monges tibetanos.

Ou, talvez, voce pudesse escrever o massacre que os comunistas russos moveram contra as etnias que eles dominavam nos Balcans.

Ou, melhor ainda, ja que voce acha que tudo se reduz a um problema racial, voce poderia escrever um artigo relatando a guerra entre hutus e tutsis (que se massacraram por decadas mesmo sendo da raca negra).

Acorda, rapaz. O ser humano fede. Pobreza, riqueza ou raca nao mudam a tragedia da nossa condicao. Leia Homero.

Que bom que voce nao quer saber da minha poesia. Eu ficaria triste comigo mesmo se os militantes perifericos gostassem de mim. O que eu menos quero eh semelhanca com voces. Eu gosto de dissidencia.

Prometo nunca mais pisar neste solo libertador.

r.c. disse...

Caro Ezequiel,

Você já foi por demais mal educado e desrespeitoso no comentário em postagem anterior. Não tenho tempo para perder contigo em discussões virtuais. Minha vida acontece no real.

Este post é apenas para dizer que não responderei mais a seus contatos pois nem o trabalho de publicá-los, eu me darei. Você tem total liberdade para navegar e publicar por onde quiser. Mas não aqui.